quinta-feira, 13 de novembro de 2008

ESTOU CANSADO DE MACAPÁ

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Já não agüento mais esta cidade. Desde quando eu vi a luz do sol nos idos de 1961, na Odilardo Silva, Bairro do Trem, que escuto e convivo com toda a sorte de mazelas no meio do mundo, e com inteiras decepções. É falta de esgoto, de vias pavimentadas, de ordenamento urbano, de respeito ao contribuinte e de vergonha dos dirigentes. Mais absurdo é a falta de água, diante desse imenso reservatório nas portas de nossas casas. Se contarmos isso para outros habitantes do planeta Terra, tenho certeza que não acreditarão. Muitos governantes prometeram, fizeram (às vezes mal feito) ou deixaram de fazer para a solução da grave secura saariana em nossas torneiras. Não é mais possível acreditar em nada. Incompetência, desprezo aos munícipes, cabide de emprego -- mais cargos comissionados que efetivos –, é pouco para resumir o que significa a nossa estatal de águas.
Do trânsito nem se fala. Para resolver todos os problemas, os nossos dirigentes acharam de plantar tachões por toda a cidade. Assim é fácil acabar com os acidentes. Por que não proíbem logo o tráfego de veículos? Há tachões a cada 50 metros; há tachões em fila simples, dupla, tripla; há tachões de tudo quanto é jeito; há até tachões em cima de lombadas – vejam na Mendonça Furtado. Por outro lado, os semáforos remontam à década de 1980 (sim, do século passado!), com a mesma tecnologia, temporização e quantidade. A maioria tortos, encobertos por árvores, sem luminosidade -- enfim, também são responsáveis por acidentes neste setentrião de problemas.
Barracos em vias públicas, dejetos no canal, pedestres sem calçadas – todos fazem o que querem nesta cidade. Macapá está uma porcaria, com todo o respeito aos criadores e criaturas suínas.
São promessas, promessas e promessas ... Nada se resolve.
Esta cidade não mais existe, há apenas um projeto mal acabado de aglomerado urbano.
Para coroar tamanho descaso com quem plantou suas sementes e vingou suas raízes neste latossolo amarelo, tomei conhecimento de um projeto que pretende construir um viaduto cobrindo o bairro Alvorada, com o fito de resolver o trânsito da maior lombada do mundo –- a ponte Sérgio Arruda – a partir de uma tal Rodovia Norte-Sul. Eu não acredito que para acabar com um problema criarão outros de proporções amazônicas. Falta de salubridade, de segurança, de sossego, são apenas amostras de uma empreitada desse tipo; e sobrarão doenças, acidentes, desvalorização dos imóveis etc. Nós que derramamos o suor do trabalho, construímos sonhos, pagamos impostos, vemos naufragar nossas conquistas e as esperanças de uma cidade melhor. Não resistiremos calados e pacíficos, caso esse descalabro seja ao menos tentado.
Estou cansado de Macapá. Vou tomar uma gengibirra e esquecer esses incompetentes; vou curar esse ressaibo nas águas mornas da Vacaria.